A existência de vários nomes, comum nos portugueses, gera muitas vezes reacções de estranheza nos naturais do Luxemburgo, onde é comum ter-se apenas o nome próprio e o apelido.
Os 155 portugueses no Luxemburgo que alteraram o nome no ano passado representaram 41% dos 377 pedidos aprovados pelo Ministério da Justiça, no âmbito da lei da naturalização. A lei da nacionalidade permite escolher o nome que passará a figurar no bilhete de identidade luxemburguês, eliminando ou acrescentando nomes próprios e apelidos, ou adotando o nome “aos usos em vigor no Luxemburgo”.
Segundo informação do Ministério da Justiça, “no caso dos cidadãos portugueses que obtiveram a nacionalidade luxemburguesa, os pedidos mais frequentes visam diminuir o número de elementos do nome de família”.
No Luxemburgo, até 2006 só era possível registar os filhos com o apelido do pai, uma limitação que violava a Convenção das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação das Mulheres, e continua a ser tradicional ter apenas um nome próprio e um apelido.
Carlos Miguel Araújo Oliveira optou por passar a chamar-se apenas Carlos Oliveira, o nome que agora figura no bilhete de identidade luxemburguês.
“Nem tinha pensado nisso, mas a funcionária que estava a fazer o processo [de naturalização] disse que eu podia mudar de nome”, contou à agência Lusa este filho de imigrantes portugueses no Luxemburgo, que nasceu no Grão-Ducado e obteve a dupla nacionalidade há três anos.
Reações de estranheza
“Todos os meus colegas na escola tinham só dois nomes e eu achava estranho”, disse, explicando que os outros nomes também “eram difíceis de pronunciar”. “Não conseguiam dizer ‘Miguel’, diziam ‘Migúel’, e Araújo é um nome difícil de pronunciar, é como um nome russo ou japonês para nós”, contou.
“Eu até os percebo, nunca levei a mal, mas é incómodo”, acrescentou o estudante de 22 anos, recordando um episódio que aconteceu no primeiro ano do liceu.
“No início do ano, o diretor chamava-nos a todos, e quando chegou a mim não conseguiu pronunciar o nome, tentou quatro vezes. A partir daí, sempre que chamavam o meu nome, quando chegavam a ‘Carlos Miguel’ eu levantava-me logo”, lembrou.
A decisão de abdicar de um dos nomes próprios e do apelido da mãe não agradou ao pai, que “ficou zangado”, mas “no dia seguinte já não havia discussões”.
“Eu continuo a ter o mesmo nome em Portugal, mas no Luxemburgo torna as coisas mais fáceis e sinto-me mais integrado na cultura luxemburguesa”, afirmou o estudante, atualmente a estudar na Universidade do Minho.
A socióloga Heidi Martins, a fazer doutoramento na Universidade do Luxemburgo, explica que muitos filhos de imigrantes se queixam de reações na escola por causa do tamanho do nome, o que pode levar a querer eliminar apelidos.
“Há associações [ao nome] que passam pelas piadas, pela diferença, por não ser prático, porque tem de se escrever o nome inteiro, e isso é percecionado como negativo”, realça.
Os pedidos de mudança de nome representam cerca de 10% dos processos de naturalização de cidadãos portugueses.
Entre 1 de Abril de 2017 — data em que entrou em vigor a nova lei proposta pelo ministro da Justiça, o lusodescendente Félix Braz — e dezembro do ano passado, pediram a nacionalidade luxemburguesa cerca de 1300 portugueses.
Uma das novidades da lei, que tornou mais fácil a naturalização, é a possibilidade de acrescentar apelidos, mas é a opção de eliminar nomes que mais atrai os portugueses. Os portugueses são a maior comunidade estrangeira no Luxemburgo, representando 16,4% da população.
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