Freixedelo realiza um almoço comunitário onde a sardinha cozida é a rainha da festa.
O Natal tem bacalhau e polvo nas mesas transmontanas e também sardinha cozida numa aldeia de Bragança, que mantém uma tradição antiga em honra do padroeiro Santo Estêvão para afastar tormentas.
Em Freixedelo, antes da consoada, a cozinha é dos homens, os mordomos que começam a preparar as sardinhas para a festa comunitária do dia 26 de dezembro.
No dia depois do Natal, juntam-se para a refeição comunitária com a imagem de Santo Estêvão à cabeceira da mesa e, embora ninguém saiba explicar a origem da sardinha no repasto, a população cumpre o ritual para o padroeiro não manifestar desagrado mandando tormentas.
Dizem os mordomos que esta tradição tem séculos e passou de geração em geração, até que um dia, alguém interrompeu o ritual e durante dois anos a festa não foi realizada.
Freixedelo e a sua população terão enfrentado dois anos de tempestades terríveis, com fortes trovoadas que destruíram campos e casas.
O povo dizia que era a ira de Santo Estêvão por a festa tinha sido interrompida.
Desde então, a tradição foi retomada religiosamente, e nunca mais aconteceu o mesmo temporal, garantem. E ainda hoje em dia, se a trovoada é sentida à distância, a população de Freixedelo retira o Santo Estêvão da Capela para sua proteção.
Festa conta com mais de 50 quilos de sardinhas
Na aldeia, estão já reservadas cinco caixas de sardinha, mais de 50 quilos, para os mordomos – só homens – prepararem.
No dia 23, vão cozer o peixe à moda antiga mergulhado durante “sete a oito minutos” em água a ferver com sal, louro e picante.
Depois de cozidas, ficam a secar numa rede ou palha para depois serem levadas a fritar num pote de azeite ao lume da lareira.
As sardinhas são depois cobertas com cebolada, tipo escabeche, e ficam três dias a marinar.
José Brás recordou à Lusa que este era um dos métodos de antigamente para conservar os alimentos e garantiu que “podem ficar assim um mês que não se estragam”.
No dia 26 de dezembro, depois da missa, juntam-se num almoço comunitário da Sardinha Cozida acompanhada de pão, tremoços e castanha cozida. Os menos apreciadores da receita têm sardinha assada na hora, como alternativa.
O almoço é gratuito e a população é convidada a participar com o que tiver, seja fumeiro ou outros produtos, para o ramo que é arrematado e entrega a quem pagar mais no final da festa e ajuda às despesas.
O ritual da Sardinha Cozinha prolonga-se até à noite com a animação musical.
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