Há mais de 30 anos, os portugueses asseguravam a maior parte do comércio local e das plantações na República Centro-Africana, uma presença que deixou vestígios, mas atualmente apenas oito cidadãos lusos
Nas ruas no centro da cidade de Bangui, capital da República Centro-Africana, ainda são visíveis vestígios da presença portuguesa, como um edifício de três andares, que exibe na fachada, em letras garrafais, o nome da empresa – “Moura e Gouveia” -, e muitos populares recordam como quase todo o comércio naquela zona pertencia a portugueses.
É o caso da família de Vítor Cunha, representante da terceira geração de comerciantes na República Centro-Africana.
A sua família dedicava-se à importação e detinha lojas em todo o país. Foi para uma dessas lojas que veio trabalhar, há 35 anos, mas, na última década, dedicou-se às obras públicas, trabalhando para uma empresa francesa.
Em 2013, com o eclodir do conflito e a deposição do então Presidente, François Bozizé, pelo grupo extremista Seleka, o país ficou “abandonado, sem lei”, mas, agora, Vítor Cunha garante que se sente seguro.
Na altura, havia cerca de 20 portugueses no país, mas agora restam oito. Luís Correia, que chegou pela primeira vez à República Centro-Africana em 1985, diz que os portugueses são muito respeitados pela população local.
“Têm uma certa ligação sentimental com os portugueses, que até há 30 anos tinham as grandes plantações de café, palmeiras, comércio. Sabem que o português é um indivíduo sério, que paga a segurança social aos empregados, não é mentiroso”, relatou o emigrante, que atualmente trabalha numa empresa de purificação de água, propriedade centro-africana.
No final de 2012, José Ferreira escapou, por dois dias, à entrada dos Seleka em Bria, local onde começou a rebelião.
“As pessoas diziam que eles estavam a avançar. Aguentei uma semana, mas depois pedi um avião para sair dali. Na segunda de manhã eles entraram”, recordou. Foi uns dias a Portugal, mas em janeiro já estava de volta ao país.
Funcionário de uma sociedade belga de exportação de diamantes, Ferreira trabalha essencialmente na província.
“O problema é quando há tiros. Depois acabam os tiros e no dia seguinte anda tudo a fazer as suas vidas normais”, relatou.
Quer o Presidente quer o primeiro-ministro centro-africanos, que se encontraram com António Costa na visita às tropas portuguesas em Bangui, recordaram a presença antiga dos portugueses no país e fizeram votos que estes regressem à República Centro-Africana, uma vez estabilizada a situação.
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