A UNESCO classificou, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, a produção dos ‘Bonecos de Estremoz’, em barro, uma arte popular com mais de três séculos.
A classificação da “Produção de Figurado em Barro de Estremoz”, vulgarmente conhecida como “Bonecos de Estremoz”, foi decidida na 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) para Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorre na Ilha Jeju, na Coreia do Sul, até hoje.
A decisão foi bastante celebrada pela comitiva portuguesa que durante os festejos exibiu exemplares de “Bonecos de Estremoz”.
Na área de Património Cultural e Imaterial da Humanidade estavam a concorrer inicialmente 49 candidaturas, das quais 35 foram aprovadas, tendo no final recolhido parecer negativo 11.
Os “Bonecos de Estremoz” pertencem a uma arte de caráter popular, com mais de 300 anos de história, tendo sido o primeiro figurado do mundo a merecer a distinção de Património Cultural Imaterial da Humanidade, na sequência da candidatura apresentada pela Câmara Municipal de Estremoz, no distrito de Évora.
A candidatura teve como responsável técnico o diretor do Museu Municipal de Estremoz, Hugo Guerreiro.
Com mais de uma centena de figuras diferentes inventariadas, a arte, a que se dedicam vários artesãos do concelho, consiste na modelação de uma figura em barro cozido, policromado e efetuada manualmente, segundo uma técnica com origem pelo menos no século XVII.
Em Estremoz, trabalham atualmente nesta arte emblemática Afonso e Matilde Ginja, Célia Freitas, Duarte Catela, Fátima Estróia, Irmãs Flores, Isabel Pires, Jorge da Conceição, Miguel Gomes e Ricardo Fonseca.
“Um momento grande da história de Estremoz”
O presidente do município de Estremoz, Luís Mourinha, manifestou-se “muito feliz”, após a UNESCO ter classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade a produção dos “Bonecos de Estremoz”.
“No fundo é um momento grande da história de Estremoz em termos da sua classificação, das suas gentes, porque o figurado de barro representa tudo o que é o trabalho, tudo o que é a dificuldade dos alentejanos e dos estremocenses em particular”, disse o autarca à agência Lusa.
De acordo com Luís Mourinha, a UNESCO valorizou os “Bonecos de Estremoz”, uma arte popular em barro com mais de três séculos, pela “visão do artista, do artesão sobre a sua envolvência”.
Hugo Guerreiro mostrou-se “emocionado” com a distinção.
“Correu tudo como estávamos à espera, sem comentários dos participantes na reunião, foi tudo aprovado de forma rápida. Estamos muito contentes, abrimos também a porta ao resto do figurado no mundo para que, de facto, seja valorizado pelas suas comunidades e pelos seus países”, disse.
Hugo Guerreiro recordou que esta vitória resulta de um trabalho “muito árduo” nos últimos cinco anos.
“Estou muito contente pelos artesãos, recordo muito a minha família, o meu antigo diretor do Museu Municipal de Estremoz, Joaquim Vermelho, um grande amante do boneco de Estremoz e que me passou esta paixão. É um momento para recordar para o resto da vida”, acrescentou.
Emocionada com a distinção da UNESCO, a artesã Perpétua Sousa, que produz “Bonecos de Estremoz” há 43 anos, homenageou todos aqueles que já trabalharam em redor da “Produção de Figurado em Barro de Estremoz”.
“Esta é uma homenagem também para quem nos ensinou a trabalhar, Sabina Santos. A partir de agora temos uma responsabilidade acrescida e acreditamos que a procura de interessados em comprar estas figuras vai aumentar”, disse.
Turismo do Alentejo: Classificação dos “Bonecos de Estremoz” é vitória para Portugal
O presidente da Turismo do Alentejo, António Ceia da Silva, considerou uma “vitória para Portugal” a classificação pela UNESCO da produção dos “Bonecos de Estremoz” como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
“Muito orgulhoso, muito satisfeito. Eu diria que é uma grande vitória, uma grande vitória para Estremoz, para o Alentejo, mas uma grande vitória para Portugal”, disse.
O presidente da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo destacou ainda a forma como aquele organismo tem reconhecido nos últimos anos as candidaturas portuguesas.
“Houve dossiês aqui que demoraram horas a ser discutidos, o dossiê de Estremoz demorou cinco minutos, e isso diz bem o reconhecimento da UNESCO do trabalho que se faz em Portugal nesta área da preservação do património cultural imaterial” enalteceu.
Ministério dos Negócios Estrangeiros saúda reconhecimento
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, saudou o reconhecimento pela UNESCO dos “Bonecos de Estremoz” como Património Imaterial da Humanidade, sublinhando que é uma afirmação do valor da cultura popular e das artes tradicionais portuguesas.
Augusto Santos Siva saudou tanto a Câmara Municipal de Estremoz, que “participou ativamente na apresentação da candidatura”, como os artesãos que preservam esta arte tradicional em Estremoz e chamou a atenção para o “duplo significado” deste reconhecimento.
“Por um lado, é a afirmação do valor e da cultura popular e das artes tradicionais portuguesas e, em segundo lugar, é também uma consciência do muito que temos que fazer para cultivar essas artes e preservar essas tradições”, considerou o ministro.
Augusto Santos Silva chamou ainda a atenção para o facto de este ser o sétimo bem português classificado como Património Imaterial da Humanidade, depois da dieta mediterrânica, da arte da falcoaria, do fado e do cante alentejano, assim como o fabrico de chocalhos e a olaria de barro de Bisalhães.
Foto em destaque ©Jorge da Conceição
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