Um coro de apoio a Madrid na disputa com a Catalunha marca as reações internacionais à proclamação de independência feita na sexta-feira pelo parlamento catalão.
Estados Unidos, Rússia, NATO e a maioria dos países europeus recusaram reconhecer a Catalunha como independente e há manifesto apoio à integridade territorial do Estado espanhol.
“Espanha forte e unida”, defende o Departamento de Estado norte-americano.
“Para a UE, nada muda. A Espanha continua a ser o nosso único interlocutor”, considerou o presidente do Conselho da UE, Donald Tusk, apelando a Madrid para que “opte pela força do argumento e não pelo argumento da força”.
Portugal, França, Alemanha, Reino Unido e a Itália afirmaram claramente que “não reconhecem a declaração de independência” adotada pelo parlamento catalão.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, considerou que a UE “não precisa de mais fissuras, de mais fraturas”.
Pela ONU, o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidos, Farhan Haq, indicou que “António Guterres encoraja todas as partes a procurar soluções dentro do quadro constitucional espanhol”, indicou.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, expressou a mesma opinião: “o problema da Catalunha é um assunto interno que deve ser resolvido no quadro da ordem constitucional espanhola”.
A Rússia manteve a posição de defender que se trata de um assunto interno de Espanha.
O governo da Grécia afirmou-se preocupado e rejeitou reconhecer a declaração unilateral, declarando apoio total à coesão do Estado espanhol e argumentando que “as ações unilaterais não podem ser aceites”
“A Europa só pode avançar unida”, defende o executivo de Alexis Tsipras, que urge as partes a restabelecer o diálogo democrático e constitucional.
No mesmo sentido, a Suíça afirmou “respeitar plenamente” a soberania de Espanha, considerando que “as aspirações independentistas da Catalunha são um assunto interno de Espanha que devem abordar-se dentro da sua ordem constitucional”.
A Austrália, através de um comunicado do Governo, afirma respeitar “a soberania e a integridade territorial do reino de Espanha” e apela à resolução “de maneira pacífica, através do diálogo e no domínio democrático e constitucional” do conflito.
Do Azerbeijão, que disputa com a Arménia o controlo do enclave de Nagorno Karabach, veio uma mensagem semelhante, salientando a necessidade de uma resolução pacífica e considerando inadmissível que se quebre de maneira unilateral a integridade territorial de um país.
Só a República separatista da Abecásia, que rompeu laços com a Geórgia em 2008 e só é reconhecida internacionalmente pela Federação Russa e Venezuela, se manifestou disposta a reconhecer a independência da Catalunha.
Madeira e Açores lamentam clima de tensão de que a Europa não precisava
O presidente do Governo regional da Madeira e o secretário regional para as Relações Externas dos Açores lamentaram o clima de tensão em torno da questão da Catalunha, que a Europa dispensava.
No dia em que o parlamento regional catalão (Parlament) aprovou a independência da Catalunha, levando o senado de Espanha a autorizar o Governo de Madrid a aplicar o artigo 155 da Constituição, que suspende a autonomia da região, Miguel Albuquerque e Rui Bettencourt, que representaram Madeira e Açores na conferência das regiões ultraperiféricas, concordaram que o conflito espanhol “não beneficia ninguém”.
Apontando que se vive “um momento quente”, que não foi abordado na conferência, dado ser competência de “um Estado soberano, que é a Espanha”, o presidente do Governo Regional da Madeira comentou, todavia, que se verificou “uma radicalização das posições que levou a um beco sem saída”.
“O que está a acontecer neste momento é um fenómeno de radicalização na Catalunha que poderia e deveria ter sido evitado”, mas que foi desencadeado a partir do momento da rejeição do estatuto de autonomia da Catalunha, “e a partir daí houve de facto uma evolução de radicalização que não vem beneficiar ninguém”, disse Miguel Albuquerque.
O governante frisou que “a Europa é um projeto político de paz e de cooperação entre os povos, foi o melhor projeto que aconteceu desde há 100 anos, há 60 anos que a Europa vive em paz e harmonia” e “os povos só ganham quando há projetos de cooperação e desenvolvimento conjunto”, e não de radicalização.
Também o secretário regional Adjunto do Governo regional dos Açores para as relações externas, sublinhando que se trata de uma questão que é da competência de um Estado-membro soberano, comentou que se assiste a uma “uma questão de grande conflitualidade entre o Estado espanhol e a região catalã” que era absolutamente dispensável.
“Achamos que realmente é lamentável que isto aconteça; é lamentável que haja essa tensão no seio da Europa. Nós não precisávamos disso, não gostaríamos de ter isso, e espero que isto se resolva, se bem que nós estejamos muito preocupados com essa situação”, disse.
Rui Bettencourt comentou que “há uma tal tensão entre o Estado espanhol e a região catalã que leva a supor que pode haver uma evolução muito negativa do que vai acontecer a seguir”.
“Espero que as pessoas tenham calma, que as coisas tomem um rumo mais simpático e que não haja uma tensão desmesurada que vá agravando. No seio da Europa não é bom. Nós não gostaríamos em sítio nenhum, muito menos entre nós”, concluiu.
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