O presidente do Centro Português de Caracas (CPC) alertou para o impacto grave na comunidade da crise económica venezuelana, com inflação acima dos três dígitos e a falta de divisas estrangeiras para importar bens.
«Não há pessoas ricas ou a fazer riquezas na Venezuela. Há pessoas que estão sobrevivendo e há muitos pobres, tanto venezuelanos como portugueses», disse à agência Lusa.
Segundo Rafael Gomes, «há portugueses com muitas necessidades, que moram em bairros populares e muitos deles não têm comida nem para comer».
«Eu sei disso porque tenho um negócio numa zona popular e sei de casos de portugueses que estão a passar fome», salientou o responsável associativo, que espera ser recebido na próxima semana pelo secretário de Estado das Comunidades português, que está de visita ao país.
O bloqueio económico do país a que se junta uma permanente crise política que tem levado à saída de milhares de pessoas do país tem consequências no dia a dia dos emigrantes portugueses, com muitos a perderem as poupanças de uma vida, presos ao país porque «já não têm condições para voltar» para Portugal.
Rafael Gomes admite que «o mais difícil» da situação» é ver as pessoas querem comer e não têm nem para comprar o mínimo para alimentar-se, porque os ordenados não dão para isso».
«Há pessoas que tinham um bom peso e perderam muito peso. Oxalá tivesse sido por que estavam fazendo exercício, mas é porque não estão a comer», disse.
Segundo Rafael Gomes, há muitas empresas que pagam parte dos salários em bens alimentares para fazer face à carência de muitos dos seus empregados.
«O mais triste é ver pessoas, com os filhos, com miúdos, à procura do que comer, no lixo. É duro dizer isto, mas vê-se imagens de pessoas a espantar os cães para que não vão ao lixo, para que elas possam ir ao lixo», frisou.
O Banco Central da Venezuela indica uma inflação mensal de 190%, com particular incidência nos produtos importados.
«O cabaz básico custa em média entre 70 milhões e 100 milhões de bolívares. O Presidente Nicolás Maduro acaba de aumentar o ordenado a 100 mil bolívares por dia e um ‘cachito’ (croissant) custa entre 200 e 300 mil bolívares. Por aí podemos ver que o salário não alcança nem para comprar um pequeno-almoço por dia», disse.
No seu entender, o salário mínimo está «vinte vezes abaixo do preço do cabaz básico» e equivale «a quase dois dólares», à cotação do mercado paralelo.
«Isso não alcança nem para comprar um quilograma de queijo, nem para comprar o ‘cachito’ para o pequeno-almoço que o miúdo leva para a escola», salientou.
Por outro lado, denunciou que muitas pessoas, entre eles portugueses estão sobrevivendo das poucas poupanças que têm em moeda estrangeira.
«As pessoas estão a sobreviver e muitas delas gastando as suas poupanças», vendendo as divisas acumuladas, concluiu.
Na Venezuela residem, segundo dados oficiais, aproximadamente 600 mil portugueses, número que a própria comunidade diz estar aquém da realidade que rondará os 1,5 milhões, incluindo os lusodescendentes.
Com frequência os venezuelanos queixam-se de dificuldades para conseguir, no mercado local, alguns produtos do cabaz básico alimentar. Também de que quando os conseguem, esses produtos são inacessíveis devido aos altos preços e aos baixos salários locais.
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