Especialistas do Porto receberam uma bolsa de 15 mil euros para encontrar biomarcadores que indiquem a resistência a determinados medicamentos por parte de doentes com mieloma múltiplo, um tipo raro de cancro que tem origem nas células plasmáticas.
O mieloma múltiplo é uma doença sem cura, originada por um crescimento anormal de uma proteína criada pelas células plasmáticas (plasmócitos), e que se manifesta, geralmente, ao atingir órgãos como os rins, os ossos e a medula óssea, explicou o médico Rui Bergantim, do serviço de hematologia clínica do Hospital São João, do Porto.
Atinge, habitualmente, indivíduos entre os 60 e os 65 anos, sendo a maior parte dos sintomas “muito genéricos e inespecíficos”, como as dores ósseas e na lombar, o cansaço, os edemas nos membros inferiores e a diminuição da força, o que leva, muitas vezes, a um diagnóstico tardio.
As opções atuais de tratamento para o mieloma múltiplo são escolhidas de acordo com as comorbilidades dos pacientes (doenças que se desenvolvem ao mesmo tempo que outras já presentes no organismo), a idade e a possibilidade de transplante de medula óssea.
De acordo com Rui Bergantim, e segundo dados publicados pelo Globocan (plataforma que fornece estimativas sobre a incidência, a mortalidade e a prevalência dos principais tipos de cancro em 184 países), relativos ao ano 2012, estima-se que, em Portugal, surjam 513 novos casos de mieloma múltiplo por ano.
O objetivo do projeto distinguido é, segundo o especialista, identificar a resistência e a sensibilidade dos doentes antes que estes iniciem o tratamento, através de uma análise sanguínea, de forma a evitar a toma de medicação desnecessária, aumentar a eficácia terapêutica e diminuir os gastos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Este prémio é a primeira bolsa atribuída para Investigação em Mieloma Múltiplo, uma iniciativa da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) e da Amgen Biofarmacêutica.
Ao longo do projeto, que terá a duração de um ano, os especialistas pretendem estabelecer padrões de associação entre os biomarcadores identificados e apontar as principais alterações citogenéticas (ao nível dos cromossomas) relacionadas com a doença.
Esperam ainda explorar novas metodologias, como as biopsias líquidas, de modo a evitar a realização de biopsias ósseas, consideradas invasivas e dolorosas.
Segundo Rui Bergantim, nos últimos anos, foi possível aumentar muito a sobrevida [tempo de vida após o diagnóstico] dos doentes portadores de mieloma múltiplo, devido à evolução da medicina, transformando “uma doença que era fatal, em crónica”.
“Há dez anos, os doentes diagnosticados com esta patologia tinham uma sobrevida inferior a dois anos”, no entanto, hoje em dia, “conseguem ter entre cinco a dez anos”, período que o especialista acredita “vir a aumentar no futuro”.
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