“A governação angolana não está católica, protestante ou muçulmana, não está nada”, diz Justino Pinto de Andrade. O deputado fala do “ato bárbaro” em Cafunfo e pede uma investigação da ONU.
Justino Pinto de Andrade, professor da Universidade Católica de Angola (UCAN), em entrevista à WD, começa por analisar os últimos acontecimentos na região diamantífera de Cafunfo, província angolana da Lunda Norte, onde a polícia reprimiu de forma violenta, no passado sábado (30.01), uma manifestação convocada pelo Movimento do Protetorado Português da Lunda Tchokwe. O número de vítimas mortais continua incerto.
“É um ato horrível. Ainda por cima com invenção. O que é mais grave não é só o facto de se terem matado as pessoas, o que é mais grave é ter-se encontrado um enredo para justificar aquele ato bárbaro”, afirma o presidente do Bloco Democrático.
SUBSCREVER NEWSLETTER
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail de segunda a sexta
Questionado sobre se já era tempo de o Presidente João Lourenço se pronunciar sobre este caso, o deputado da CASA-CE responde: “Já passou o tempo. Ele devia ter-se pronunciado logo no mesmo dia. Nos países democráticos, os chefes de Estado quando têm conhecimento de situações deste género, eles imediatamente se pronunciam”.

O político da oposição defende a intervenção da ONU para uma investigação independente sobre o caso Cafunfo. “Devia-se exigir das mais altas instâncias internacionais um inquérito rigoroso, feito por pessoas sérias, para nós tomarmos conhecimento de tudo quanto aconteceu, penalizar essas pessoas que cometeram aquele crime e os responsáveis políticos”, diz.
“O que está acontecer é que a dita luta contra a corrupção não se está a traduzir em bem-estar porque as pessoas estão cada vez piores. Nós temos muita gente desempregada, a perder os seus empregos, há pessoas a ficaram cada vez mais pobres, o poder de compra está cada vez pior, mesmo até os locais de compra estão a ficar cada vez mais vazios. Se olharmos para os supermercados hoje vemos que estão praticamente a ficar vazios”, lembra o deputado.
Sobre o futuro da economia angolana, Justino Pinto de Andrade, que também é economista, reprova as políticas económicas do governo, embora reconheça que a situação da pandemia esteja a contribuir negativamente para não recuperação económica.
Para Pinto de Andrade, a diversificação da economia parece ser uma miragem. “Eu não me entusiasmo por encontrar na rua mandioca e laranja. Economia não é só mandioca e laranja. É muito mais do que isso. O peso disso na economia não é nada. Eu só posso falar em diversificação da economia quando as diversas áreas da nossa economia estiverem realmente em atividade. A indústria está onde?”, questiona.
O Bloco Democrático (BD) realiza este ano a sua convenção nacional para escolher um novo presidente, mas Justino Pinto de Andrade já não concorre à sua própria sucessão. Questionado sobre se o BD abandona a CASA-CE em 2022, o político diz que poderá ou não renovar o pacto.
Justino Pinto de Andrade revela ainda como gostaria de ser lembrado pelo Estado angolano: “Quero ser lembrado como um bom patriota.”