Presidente da República visitou Castanheira de Pera, um ano após os fogos que deflagaram no interior de Portugal.
Os primeiros resultados do projeto “Pinhal de Futuro – Rastreio e acompanhamento psicológico de crianças e adolescentes afetados pelos incêndios de 2017”, foram apresentados ontem (dia 16 de junho), na Escola Básica Bissaya Barreto, em Castanheira de Pera, na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
No seu discurso, o Presidente da República realçou que, um ano depois do grande incêndio de Pedrógão Grande, todos os responsáveis políticos, dos parlamentares ao Governo, perceberam a necessidade de defender e praticar a coesão social no país.
«Não é só para a Europa que nós defendemos a coesão social. A caridade bem entendida deve começar na própria casa. Isto é, a coesão social é defendida e deve ser defendida e praticada cá dentro. E todo o Portugal percebeu isso», afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que falava na sessão de apresentação.
O Chefe de Estado disse que «há que ser justo», considerando que o povo português como um todo percebeu a importância da coesão social no país, «mas também perceberam os responsáveis políticos como um todo».
O Presidente da República realçou que «tudo isto, de repente, mudou e mudou em menos de um ano». Na sua perspetiva, Portugal «mudou irreversivelmente» depois de ter vivido e assistido aos grandes incêndios de 2017.
O projeto “Pinhal de Futuro”, que envolve 2557 alunos de seis concelhos da região Centro (Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera, Sertã, Pampilhosa da Serra e Góis), é promovido pelo Fundo de Apoio às populações e à revitalização das áreas afetadas pelos incêndios gerido pela Fundação Calouste Gulbenkian, e realizado em parceria pela Associação Empresários Pela Inclusão Social (EPIS) e pelo Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC.
«Este projeto vai deixar uma série de instrumentos importantes que, apesar de não querermos voltar a ter necessidade de utilizar, podem ser essenciais no futuro», afirmou António Vitorino, presidente da EPIS.
Segundo o estudo, cerca de 8% dos alunos entre os 6 e os 18 anos da região afetada pelo grande incêndio de Pedrógão Grande apresentam sintomas de stress pós-traumático.
Uma taxa que deixou Marcelo surpreso pela positiva: estava à espera de mais – de taxas de «15% ou de 20% ou de 30%», e atribuiu esse feito [da taxa ser tão baixa] «ao espírito de família» que se sente na zona, entre familiares, amigos, passando pelas instituições locais, como as escolas ou os municípios, notou.
Já no final de um discurso para uma plateia onde estavam pais e crianças da região, Marcelo Rebelo de Sousa realçou que «construir o Pinhal do futuro [numa alusão ao projeto de acompanhamento dos alunos] é celebrar a vida».
O Presidente da República confidenciou que antes do programa oficial deu uma volta pela vila e reparou em jovens que se preparavam para um jantar de finalistas naquele dia.
Esse exemplo, assim como outras iniciativas como o Festival Literário Internacional do Interior, onde também participou, são sinais de «esperança, de uma região que olha para o futuro», destacou.
«Essa esperança é que faz com que a cicatrização seja mais rápida. Que fique lá a cicatriz, mas que fique com um sinal não apenas de passado, mas de futuro, de capacidade de renascer, de reviver, de construir esse futuro diferente para o Pinhal, que é construir um futuro diferente para todos nós», salientou.
E concluiu afirmando que «a vida continua, aprendendo com as lições do passado, mas continua com força e esperança. Nós somos um grande país».
A «força de vontade» dos bombeiros
Na visita aos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pera – quatro dos quais ficaram feridos com gravidade e um morreu, na sequência do incêndio – Marcelo cumprimentou um a um os operacionais na parada e, momentos depois, dirigiu-se ao subchefe Rui Rosinha e à bombeira Filipa Rodrigues, que assistiam, à porta do quartel, à cerimónia.
«Caramba, que recuperação, é a juventude e força de vontade, é espírito de bombeiro», exclamou o Presidente, quando Rui Rosinha se levantou da cadeira de rodas que ainda usa para dar um abraço ao chefe de Estado.
Filipa Rodrigues lembrou os profissionais de saúde que a trataram «pessoas impecáveis e extraordinárias. Ainda hoje estive com eles e foi maravilhoso», enfatizou.
Os bombeiros enalteceram o Serviço Nacional de Saúde (SNS), acompanhados no elogio por Marcelo Rebelo de Sousa.
«Tem deficiências, mas se não fosse o Serviço Nacional de Saúde, o que seria deste país nos últimos 40 anos», frisou Marcelo.
O incêndio que deflagrou há um ano em Pedrógão Grande (distrito de Leiria), em 17 de junho, e alastrou a concelhos vizinhos, provocou 66 mortos e cerca de 250 feridos.
As chamas, extintas uma semana depois, destruíram meio milhar de casas, 261 das quais habitações permanentes, e 50 empresas.
Em outubro, os incêndios rurais que atingiram a região Centro fizeram 50 mortes, a que se somam outras cinco registadas noutros fogos, elevando para 121 o número total de mortos em 2017.
SUBSCREVER NEWSLETTER
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail de segunda a sexta