Hoje, dia 15 de agosto, feriado, data em que se celebra a Assunção de Nossa Senhora aos Céus, cumpre-se a segunda peregrinação do ano ao Santuário da Lapa, em Sernancelhe, o culto mariano mais antigo em Portugal e que, «antes do aparecimento de Fátima, era também o mais importante do país».
A Romaria da Nossa Senhora da Lapa é das mais importantes da Beira Alta. O dia começa com a saída do andor para uma pequena capela setecentista em torno da qual se aglomeram milhares de peregrinos.
Com o aparecimento da virgem na Cova da Iria há mais de cem anos, a devoção à virgem das Terras do Demo foi decaindo, mas ainda hoje por esta altura há quem não deixe de visitar a Lapa, sobretudo os emigrantes quando vêm de férias. Para a peregrinação desta quarta-feira, são esperadas três a cinco mil pessoas.
«Esta é das três a que reúne mais pessoas de forma anónima», explicou ao Jornal do Centro o padre José Alves Amorim, o reitor do templo religioso.
Sinais de Nossa Senhora da Lapa no mundo
A terceira e última peregrinação do ano ao Santuário da Lapa acontece no terceiro domingo de setembro.
Tradicionalmente, este era o momento em que os peregrinos da zona do Minho rumavam à Lapa, o que atualmente ainda acontece, mas de forma espaçada ao longo de todo o mês de setembro. Para contornar a situação, e como se estão a completar os 520 anos do aparecimento de Nossa Senhora à pastora Joana, a reitoria do Santuário decidiu mudar o foco desta última peregrinação do ano que agora ganha uma escala mundial.
«Vai ser a peregrinação dos sinais de Nossa Senhora da Lapa no mundo. Descobri que há mais de 60 lugares onde existe devoção à Senhora da Lapa. Esta divulgação deu-se sobretudo no século XVII, quando Portugal chegou a ser império», adianta o reitor.
Esta peregrinação, de 16 de setembro, vai ser uma estreia e por isso o santuário está expectante em saber qual vai ser a adesão dos crentes. Para já está confirmada a vinda de uma comitiva do Brasil.
«Não posso calcular o número de visitantes, mas imagino que tenhamos cinco a dez mil visitantes. Vêm representantes de vários países e muitas pessoas virão por curiosidade», afirma o padre José Alves Amorim.
Segundo o responsável pelo templo religioso, atualmente a Lapa ainda é procurada, mas agora mais por turistas do que crentes. São várias as excursões que param no santuário para ver a virgem que se encontra num rochedo e por onde os visitantes têm que passar.
Lapa: a montanha, a fé e um santuário com mais de 520 anos de história
A história da Lapa começa em 1493 com o aparecimento da imagem de Nossa Senhora debaixo de uma lapa, trazida para aquele local por religiosos que fugiam ao general mouro Al Mansor. A gruta onde a imagem foi descoberta possui uma pedra muito estreia por onde reza a tradição que todos passam, exceto quem tiver pecado grave. A lenda tomou proporções nacionais e, sem demoras, surgiram as primeiras construções naquele local.
Alguns anos mais tarde, e já sob a orientação dos jesuítas, foi construída a atual Igreja, que ficaria concluída no ano de 1635, no exato local onde a Pastorinha Joana descobriu a imagem de Nossa Senhora.
O Colégio, onde gente ilustre como o escritor Aquilino Ribeiro ingressou em 1895 para estudar gramática, latim, lógica e moral, começou a ser construído em finais do século XVI e é uma das obras maiores dos Jesuítas na Lapa, funcionando hoje como pousada do Santuário.
A preponderância da Lapa foi reconhecida também pela coroa que, em 1740 lhe conferiria o estatuto de Vila, que manteria durante 145 anos.
A Lapa é hoje Aldeia de Portugal.
Lenda da pastorinha Joana
Chamava-se Joana a pastorinha muda, de doze anos, que, enquanto guardava um pequeno rebanho de ovelhas, avistou, por entre as fendas de um penedo ou lapa, uma imagem de Nossa Senhora. Diz a história que Joana aproximou-se da imagem e, extasiada, permaneceu em oração por largo período de tempo. A pastorinha reparou, então, que as vestes da imagem se encontravam destruídas pela ação do tempo e pela humidade e decidiu erguer, naquele local, um altarzinho. Limpou a imagem, colocou flores em seu redor e não mais deixou de pensar no seu “tesouro”.
No dia seguinte, Joana levou a imagem para casa na cestinha onde a mãe lhe enviava o farnel. A mãe, que não apreciava o facto de Joana perder tempo a fazer vestidinhos para a “boneca”, atirou-a ao lume. Desesperada, Joana, muda de nascença, gritou para a mãe: “Tá! Minha mãe! É Nossa Senhora da Lapa! Ai! Que fez?”.
Diz a lenda que a imagem não se queimou, mas nesse preciso momento a mãe ficou com o braço paralisado. Arrependida do ato que acabara de cometer rezou com Joana e tudo voltou à normalidade. O pároco, conhecedor da história, pediu que a imagem fosse colocada na Igreja Matriz, para não ficar naquele ermo, só que a imagem desaparecia de lá e aparecia na gruta onde Joana a havia descoberto. Era lá que ela queria ser venerada, dizem.
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