Alívio das restrições no período festivo e campanha em torno da vacinação ajudaram a reduzir “a perceção do risco por parte da população”, considera a Ordem dos Médicos, no mesmo dia em que enviou ao Ministério da Saúde uma lista de quatro mil médicos do sector privado que continuam à espera de ser vacinados.
Num comunicado enviado às redações, a OM mostra-se apreensiva “pela rutura evidente do SNS com consequências graves para todos os cidadãos que dele necessitam, independentemente do motivo da doença”. E diz-se preocupada “pela contínua exigência aos médicos e a todos os profissionais de saúde, já exaustos, e a que acresce a deterioração das suas condições de trabalho, a falta de recursos, o burnout e o sofrimento ético”.
Lembrando que o impacto da vacinação na comunidade não será imediato, a OM defende que “o alívio das restantes medidas de saúde pública não poderá avançar enquanto não for atingida a cobertura vacinal adequada”. Por isso, e por considerar que não foram mobilizados em tempo útil “os recursos humanos, técnicos e infraestruturais que existem no sector da saúde em Portugal”, a OM assume como inevitáveis novos confinamentos como forma de fazer baixar a curva dos novos contágios, reconhecendo embora “as consequências económicas e sociais que daí resultam”.
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Estas críticas surgem no mesmo dia em que a OM enviou ao Ministério da Saúde uma primeira lista de mais de quatro mil médicos que trabalham fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que, “até ao momento, não receberam qualquer informação sobre a vacinação contra a covid-19”.
São profissionais de saúde que querem ser imunizados e, segundo Miguel Guimarães, estando os médicos incluídos no grupo prioritário para a vacinação, “não é aceitável quer todos os médicos portugueses, incluindo os que trabalham fora do SNS, não tenham sido ainda contactados”.
“Os critérios relativos à definição de prioridades e à sua aplicação prática deveriam ser uniformes e envolver todo o país e não apenas uma parte do mesmo, até porque muitos portugueses encontram hoje resposta para os seus problemas de saúde em consultas, exames e cirurgias proporcionados fora do SNS, seja a título privado ou convencionado”, lê-se no comunicado, para lembrar que, sem uma vacinação alargada a todos os profissionais de saúde, é grande o risco de ocorrência de surtos que podem obrigar ao fecho de serviços de saúde fora do SNS.
Entre os 4043 médicos que estão à espera da vacina, quase 1800 são da zona da Grande Lisboa e mais de 900 do Porto. A lista estende-se, porém, a todo o país, sendo que, daquele universo, mais de 1500 médicos têm entre 65 e 74 anos e perto de 900 inscrevem-se no grupo etário dos 55 aos 64 anos. Em quase 60% dos casos, os médicos trabalham em clínicas e consultórios particulares, mas são mais de mil os que fazem serviço de urgência.
Neste universo de mais de 4000 médicos, inscrevem-se ainda quase 1400 prestadores de serviço que, “por trabalharem normalmente no SNS sem vínculo e sim através de empresas prestadoras de serviços, também não têm sido contemplados”.