Esta é a segunda vez que um Líder da Igreja Católica se desloca àquele país, depois de João Paulo II o ter feito, em setembro de 1988, em plena guerra civil no território.
O Papa Francisco chega ao final da tarde de hoje (4 de setembro) a Moçambique, para uma visita de três dias ao país lusófono. A viagem a Moçambique, a convite das autoridades políticas e da Conferência Episcopal, tem o lema ‘Esperança. Paz. Reconciliação’, centrando-se na área de Maputo.
De acordo com estudiosos do catolicismo moçambicano e analistas, esta deslocação é vista como “um estímulo para a paz no país e vai colocar maior responsabilidade sobre as lideranças nacionais”.
Em declarações à Lusa, Eric Morier-Genoud, especialista em História Africana, considerou oportuna a visita do chefe da Igreja Católica, porque “vai acontecer num momento em que Moçambique acaba de testemunhar mais um acordo de paz, que precisa de ser consolidado”.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, Ossufo Momade, assinaram o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional de Maputo, encerrando, formalmente, meses de confrontos militares que se seguiram após as eleições gerais de 2014.
O pacto foi o terceiro entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e a Renamo, no âmbito dos esforços de busca de paz.
“Temos um contexto de acordo de paz (…), ele vem com uma mensagem de paz, reconciliação e de esperança, que penso que cai bem”, referiu Morier-Genoud, autor de várias obras sobre o catolicismo em Moçambique.
O padre moçambicano e docente de Filosofia Alfredo Manhiça acredita que o papa Francisco vai reforçar o entusiasmo dos moçambicanos em relação à fé e estabilidade do país.
“Não digo que ele traga soluções, mas pode trazer um espírito novo para afrontar os velhos problemas [que afligem a sociedade moçambicana]”, considerou Alfredo Manhiça.
O papa Francisco, prosseguiu, vai confirmar a fé e o caminho de esperança que os moçambicanos têm percorrido.
Amad Camal, antigo deputado da Assembleia da República e empresário, vê em papa Francisco um educador do amor e da paz, que vai colocar sobre os ombros dos líderes moçambicanos maior responsabilidade na resposta aos anseios da sociedade.
“Eu estou convencido de que a vinda do papa responsabiliza mais os negociadores da paz e vai, através da sua narrativa, pressionar este processo [de paz], que vai muito bem, mas nós já o vimos descarrilar”, considera Amad Camal, um dos mais conhecidos empresários moçambicanos.
Com a sua autoridade moral, Francisco vai colocar um “aditivo” por forma a que o processo de paz seja irreversível, acrescentou Camal, um muçulmano confesso, mas “fã” assumido de Francisco.
Nesta viagem episcopal a Moçambique, o Papa vai reunir-se com Filipe Nyusi, com representantes da sociedade civil, autoridades e do corpo diplomático.
O Sumo Pontífice vai estar ainda com membros do clero e de instituições religiosas, estando também na agenda de Francisco a visita um hospital na capital moçambicana.
Os pontos altos da visita de Francisco a Moçambique serão um encontro inter-religioso com jovens num pavilhão desportivo da baixa de Maputo e a missa campal de sexta feira, no Estádio do Zimpeto, onde são esperadas até 90 mil pessoas, segundo a organização.
“Todos os moçambicanos são exortados a acompanhar esta visita. É um dia de festa e foi decretada tolerância de ponto para Maputo. É um momento para celebrarmos e para estarmos juntos”, afirmou Filipe Nyusi, acrescentando que o país deve aproveitar o momento para refletir.
De acordo com o censo geral da população moçambicana de 2017, a religião católica é seguida por 26% da população, o maior grupo, o Islão representa 18%, a religião zione 15%, evangélicos/pentecostais 14% e anglicanos cerca de 1%.
A chegada do Líder da Igreja Católica a Maputo está prevista para hoje às 18h30 locais (17h30 em Lisboa), onde inicia um périplo que o levará no dia 6 a Madagáscar e no dia 9 às ilhas Maurícias.
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