As “fábricas mais fortes” nacionais que sobreviveram à crise estão com uma “postura mais competitiva”.
Portugal concorre com a China no fabrico de produtos têxteis de nível “médio/alto e alto”, face ao aumento dos custos industriais no país asiático, afirmou o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção – ANIVEC/APIV, César Araújo.
No Fórum da Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting (ALF) sobre os desafios da indústria em Portugal, que decorreu em Lisboa, o responsável notou que “nunca se ouviu dizer que se mudou para a China porque era melhor”, porque a comparação era apenas ao nível de preço.
“Estamos num momento que há muito ansiávamos e que está a nosso favor: os custos industriais na China estão a crescer a um ritmo muito acelerado. […] Comparando com o produto médio/alto e alto, como é o português, estamos agradavelmente próximos uns dos outros”, garantiu.
César Araújo recordou a “posição invejável” do setor ao dispor de “adaptabilidade de trabalho parecido com um banco de horas”, devido aos picos de produção que envolvem 88 mil pessoas, mas não deixou de criticar o modelo de IRS que faz aumentar de escalão os funcionários quando trabalham mais e as atuais tributações autónomas.
Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal – AIMMAP, fez eco das críticas às leis laborais e fiscais, sobretudo à “aberração das contribuições autónomas”.
“O que podemos pedir é estabilidade e não mexer mais, peço que não mexa muito e não estrague e desenvolva o que há de bom”, argumentou o responsável.
Por seu lado, Fortunato Frederico, ex- líder da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos, defendeu que deve haver “valorização do produto (industrial) internamente”.
“O que significa trabalhadores motivados, ensinados e disciplinados. Eu na tropa aprendi que trabalho é trabalho e conhaque é conhaque, mas a sociedade arrasta-se hoje quase sempre para o conhaque”, afirmou o responsável, garantindo que o trabalho tem que ser feito com “gosto e alegria”.
“As pessoas têm que ter confiança no futuro, para valorizar o produto. Não é preciso crescer muito”, resumiu Fortunato Frederico, informando esperar que o setor do calçado mantenha a média de crescimento.
Na mesma mesa redonda destes industriais, Luís Mira Amaral, do Conselho da Industria da CIP, notou a excessiva dependência do financiamento bancário, em Portugal e na Europa, para apoiar as indústrias e que apenas as boas empresas têm acesso a condições positivas.
“Para as boas empresas estão lá todos os bancos e o custo não é problema porque os ‘spreads’ [margem de lucro comercial do banco] estão esmagados pela concorrência”, disse Mira Amaral, indicando como solução os fundos públicos para as empresas endividadas.
Na sessão de abertura deste fórum, o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, afirmou o objetivo de as empresas terem uma “base de capitais próprios mais fortes”, referindo a aposta que está a ser feita em instrumentos financeiros que possibilitem “custos menores e prazos mais longos” para assim “dar confiança”.
Citando o ‘leasing’, o ‘factoring’ e o ‘renting’, o governante referiu a importância de vários instrumentos financeiros a que a indústria pode recorrer, “nomeadamente as empresas que estão a crescer e as ligadas à inovação”.
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