A comunidade portuguesa residente em França não teve uma grande participação no ‘grande debate nacional’ promovido pelo Presidente como resposta aos protestos dos ‘coletes amarelos’, disseram à agência Lusa eleitos locais lusos, que se mostraram pouco confiantes na eficácia desta iniciativa.
O chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, encerrou oficialmente o ‘grande debate’ com uma visita à Córsega e um último debate com a população local. A iniciativa lançada pelo Presidente francês para combater o movimento dos ‘coletes amarelos’, promovendo debates locais abertos a toda a população e debruçando-se sobre diferentes temáticas, teve uma grande adesão, abrangendo cerca de 98% do território, originando mais de 10.000 debates por todo o país e quase dois milhões de propostas.
No entanto, em algumas cidades, a comunidade portuguesa não respondeu ao apelo.
«Em Antony, nos debates em que participei, não vi a comunidade portuguesa presente. Mas também não vi outras comunidades que poderiam lá estar. Assim como não vi juventude nem representantes dos bairros mais sensíveis», indicou Rosa Macieira Dumoulin, portuguesa e conselheira municipal da cidade de Antony, nos arredores de Paris, onde há uma comunidade significativa de portugueses e lusodescendentes.
A eleita local pelo partido Les Republicains considera que acabaram por «participar as pessoas que participam sempre» e aponta a falta de informação como explicação: «Uma das razões para a falta de participação da comunidade portuguesa talvez tenha sido que a informação chegou tarde, portanto é preciso comunicar de outra maneira com os habitantes», indicou Rosa Macieira Dumoulin.
Também em Bordéus, uma cidade onde o ex-presidente da câmara, Alain Juppé, cultivou desde a sua eleição um debate ativo com a população, Ana-Maria Torres, portuguesa e conselheira municipal, afirmou não ter visto um interesse ou participação intensa da comunidade lusitana.
«Estou convencida de que na sala onde estava havia portugueses, mas não aparecem como portugueses. Ninguém poderá dizer qual é a participação dos portugueses porque estão de tal forma bem inseridos em França que não há distinção. Isso acontecia, talvez, há 50 anos. Agora não», indicou Ana-Maria Torres, eleita como independente.
Já em Metz, os portugueses apareceram preocupados com as questões da fiscalidade, reformas e aumentos dos impostos em França.
«Organizámos debates com quatro datas sobre as quatro temáticas escolhidas pela Governo. A data onde apareceram mais portugueses foi a que teve a ver com a fiscalidade. […] Há muitos lares, nomeadamente na comunidade portuguesa, em que trabalharam os dois a vida inteira e estão no limiar de rendimentos de reforma que não é muito alto», contou Nathalie de Oliveira, conselheira municipal em Metz eleita pelo Partido Socialista.
A fiscalidade, como o regresso do imposto sobre as grandes fortunas e os impostos aplicados aos reformados, é um dos temas quentes nos protestos dos coletes amarelos e também no “grande debate”.
“O impacto das medidas deste Governo foi muito negativo e, mais do que um debate sobre a democracia participativa e institucional, as pessoas que participaram em Metz levantaran a questão da justiça social e fiscal”, disse Nathalie de Oliveira.
O ‘grande debate’ teve um custo de 12 milhões de euros e levou cerca de 500 mil pessoas a encontros organizados pelas autoridades locais, mas também por associações e até igrejas. Uma grande parte das contribuições surgiu também através da internet.
SUBSCREVER NEWSLETTER
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail de segunda a sexta