O presidente do Chega voltou a colar-se à figura popular do falecido fundador do PPD/PSD Francisco Sá Carneiro, embora em versão adaptada ao século XXI, e assumiu uma postura mais presidencialista no partido legalizado em abril de 2019.
“Tenho a certeza de que se Sá Carneiro estivesse vivo hoje acreditava em muitas das coisas que eu digo. Por isso é que digo que sou o herdeiro dele, não no mau sentido, mas no sentido de que nunca conheci um líder que inspirasse tanta gente, e esse é o meu modelo. Fazer política junto das pessoas e ter como objetivo melhorar a vida das pessoas”, disse André Ventura, em Évora, na II Convenção Nacional da força política que dirige.
O deputado único do Chega apresentou-se como “herdeiro humilde” do antigo primeiro-ministro que morreu no desastre de avião de Camarate (4 de dezembro de 1980) e revelou que passa “muitas horas a ler discursos e a ouvir Sá Carneiro, daquilo que está disponível”.
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“Para mim é um grande modelo. Sei que muitas pessoas de direita não gostam disso, mas eu digo aquilo que penso”, afirmou. Na opinião de Ventura, “Sá Carneiro mudou de posição e de opinião em relação à ideia que tinha de Portugal, provavelmente, no dia 25 de Abril”. “no dia em que faleceu e nos meses que se antecederam, já tinha outra [ideia], caso contrário não teria lançado uma grande coligação como a Aliança Democrática [PPD/PSD, CDS-PP, PPM]”, declarou.
Para sustentar a sua comparação ao histórico líder do PPD, o presidente do Chega assinalou que “há muito tempo” que não sentia “um levantamento popular de uma força que é genuinamente popular, de base”.
“Sá Carneiro conseguiu fazê-lo. Foi o homem do seu tempo e do que aquele tempo precisava. Eu acho que sou esse homem de que Portugal precisa hoje, com as diferenças que o tempo tem. O pensamento de Sá Carneiro era para os anos de 1970 e 80, o meu pensamento é para o século XXI”, garantiu.
Em termos de alterações estatutárias a serem aprovadas pelos delegados à convenção, Ventura assume que o Chega “é um partido que reforça a imagem presidencialista”. “Aumenta o mandato (para quatro anos) para coincidir com os ciclos eleitorais. As concelhias não serão eleitas, serão nomeadas. Saio daqui com instrumentos para segurar o partido com mais força. Vou usar essa força, é preciso que os militantes saibam disso. Vou tentar, dentro das possibilidades e quadro legal, impedir que este partido caia, por causa de tensões e lutas internas, no mesmo em que acabaram PSD e PS”, prometeu.
Sobre o evento que decorreu, sábado, numa quinta nos arredores de Évora Ventura afirmou que “superou [as expectativas] na afluência, sem dúvida”
“Tivemos mais gente do que esperávamos, não conseguimos acolher toda a gente. Infelizmente, houve delegados que já não conseguiram entrar. A participação está incrível, vê-se que o partido está a crescer imenso, com uma dinâmica fortíssima. Isso implica também tensões internas… são dores de crescimento, o que espero é que não minem a capacidade de passar a mensagem para fora. Não podemos ter os mesmos problemas e vícios que tiveram PSD e PS”, desejou.
André Ventura foi eleito presidente da Direção Nacional do Chega na I Convenção Nacional do partido, que decorreu nos dias 29 e 30 de junho de 2019 em Algés, Lisboa. Há duas semanas foi reeleito, com 99% dos votos, em eleições diretas.