– Então a vida em Inglaterra não estava a correr bem? Vais mudar de novo? Porquê?- Já chega de chuva (respondia eu, como quem não quer dar muitas respostas).
A verdade é que sim, a vida em Londres correu muito bem, e sim, decidi mudar de novo.
Porque quase 270 mil portugueses não podem estar equivocados. A Suíça deve ser um bom lugar para viver. Vim tirar as duvidas, que não foram muito difíceis de tirar. A mudança não foi fácil, volta e meia lá batia aquela vontade de voltar para a ilha, ou para a nossa Casa (com letra maiúscula, com o respeito que a Casa deve ter) ou para qualquer outro sítio onde eu pelo menos entendesse a língua que se fala na rua. Mas para a frente é que é caminho. Nem pensar que eu ia voltar a fazer as malas. A canseira que isso iria ser! E Genebra tem os seus encantos.
Logo à chegada, a Suíça mostrou-me uma mão cheia de queijos e outra de chocolates – “Ah, sua espertalhona, queres convencer-me!” – e quando enfim comecei a conhecer um pouco das suas paisagens naturais, onde o verde do alto das montanhas se vai fundindo com o azul intenso dos lagos, então, rendi-me.
Aqui a vida corre sem grandes preocupações. Genebra apresentou-se como uma cidade pequena em tamanho, mas plena em comodidade, em espaços verdes, em nascentes de água e em risos de crianças. É uma cidade amiga das famílias, dos negócios, dos emigrantes, mas não tão amiga do turista mochileiro (4€ por uma meia de leite rebatizada de cappuccino?!).
Porém, o primeiro mandamento helvético não é “não deixarás de apanhar o cocó do teu cão” ou “não improvisarás – as regras são as regras” ou ainda “falarás quatro idiomas oficiais”, mas sim qualquer coisa como “não te atrasarás”. Pontualidade britânica é para meninos. O tempo é coisa sagrada e nem há desculpas para atrasos uma vez que o trânsito é pouco, os transportes públicos são abundantes e há relógios a funcionar em todo o lado.
Isto é realmente muito bonito e organizado, mas faltava-me descobrir em que zona da cidade seria “Little Portugal”. A resposta foi bem rápida: não há. Somos um exemplo de integração, de trabalho e adaptação e isso conquistou o respeito dos genebrinos. Por exemplo, no momento em que escrevo este texto a acontecer o campeonato europeu de futebol – aqui ao lado, em França – e a bandeira vermelha e verde decora muitas e muitas janelas e varandas em todos os pontos da cidade.
Não falta também, claro, o trio de ataque preferido dos portugueses na hora dos jogos: esplanadas, minis e tremoços. Todos são bem-vindos a estas bancadas improvisadas. É quase como estar em Casa. Quase. Porque Casa só existe uma.
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