A Revista PORT.COM falou com dois irmãos venezuelanos que ‘fugiram’ do seu país e com um português que mantém a ligação profissional à Venezuela, mas à distância. Três testemunhos que são suficientes para se perceber a dramática realidade que ali se vive.
Sérgio Ferreira Soares, chefe de redação do jornal Correio da Venezuela
«A situação atual é de grande preocupação entre os cidadãos portugueses na Venezuela. Embora seja verdade que existem nacionais portugueses e empresários com dinheiro, é também uma realidade que existem muitos outros que passam por necessidades e estão em dificuldades. Muitos cidadãos portugueses recorreram à troca das suas poupanças de euros em bolívares para cobrir as despesas mensais, enquanto outros recebem pacotes de produtos básicos que são enviados pelos seus familiares do estrangeiro.
Particularmente, penso que o governo português tem sido muito bem-sucedido nos seus passos. Infelizmente, a Venezuela é um país com grandes divisões ideológicas, o que dificulta que as pessoas tenham pontos médios. Isto leva a que muitos portugueses sejam radicais e critiquem tudo o que faz o Governo Português. Penso que esta é uma maneira errada de pensar. O Governo português deu passos firmes, prestou assistência concreta e demonstrou o seu grande interesse pela comunidade luso-venezuelana.»
Davier Gonzalez, gerente de restauração
«Vim para Portugal em 2009, por causa da insegurança, porque os meus sogros (que são portugueses) tinham lá negócios e estavam a ser ameaçados. Foi nessa altura que houve muitos sequestros a portugueses e muitas pessoas começaram a sair do país. De há cinco anos para cá, as pessoas que emigram fazem-no por causa do dinheiro, porque não se conseguem manter lá com o que recebem.
A maioria dos portugueses que conheço e que tem supermercados ou os alugou ou está a geri-los à distância, a partir de Miami ou mesmo daqui de Portugal. O problema é o preço dos produtos. Conheço um português que, para abastecer o supermercado, gastou mais de 100 mil euros em produtos, o que é um valor muito alto para a Venezuela.
O Governo português está a agir bem para proteger a comunidade portuguesa, mas por mais que façam nunca vai ser suficiente, porque não vão conseguir controlar o governo venezuelano.»
Jorge Gonzalez, empregado de mesa
«Cheguei da Venezuela há quatro meses e posso garantir que a Venezuela está muito mal. As pessoas não têm comida e têm de vender os seus pertences para poderem comprar os produtos mínimos para sobreviverem, porque não têm dinheiro e os produtos estão demasiado caros.
Vim para Portugal, com a ajuda do meu irmão, para ajudar a minha família que continua na Venezuela. Quero trazê-los para cá, mas além de não terem passaporte, as viagens são muito caras e, por isso, por enquanto a única coisa que posso fazer é enviar dinheiro para ir ajudando. Quando puder, a primeira coisa que faço é trazê-los para cá. Não queria sair do meu país, mas fui obrigado pela situação que está a passar.»
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