O comércio internacional dentro do continente africano representou, no ano passado, apenas 14,4% do total, de acordo com o relatório sobre o Comércio Africano, lançado hoje pela Comissão Económica das Nações Unidas para África.
“O comércio intrarregional caiu de 15% em 2018 para 14,4% no ano passado, e deverá ser atingido este ano devido à pandemia, que criou uma situação mais gravosa do que a crise financeira de 2008”, disse a vice-coordenadora do Centro Africano de Políticas Comerciais na Comissão Económica da ONU para África, Nadia Hasham.
Na apresentação do relatório, que decorreu em formato virtual, a responsável, que é uma das autoras do relatório, vincou que “o comércio informal transfronteiriço é crucial para as regiões e chega a representar 75% do total, sendo a principal fonte de rendimento para quase metade das pessoas” que habitam nas regiões fronteiriças africanas.
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“A falta de financiamento dos bancos comerciais, a falta de acesso a entidades financeiras e a falta de cobertura em termos de balcões são alguns dos problemas que os comerciantes informais transfronteiriços enfrentam”, acrescentou Nadia Hasham, defendendo que a digitalização das transferências bancárias e dos pagamentos é essencial para potenciar este tipo de comércio.
Entre os países que mais contribuem para o comércio no continente africano, a responsável elencou a África do Sul, a economia mais industrializada da África subsaariana, seguida da República Democrática do Congo, Egito, Namíbia, Zimbabué, Costa do Marfim e Zâmbia.
No painel que debateu as principais conclusões do relatório, a diretora do Centro Internacional de Comércio, Pamela Coque-Hamilton defendeu uma “diversificação ativa não só internamente, mas também relativamente aos mercados de exportação”, argumentando que “quanto maior for o leque de produtos e mais abrangente forem os destinos das exportações, mais forte e menos vulneráveis a choques o país exportador será”.
Além disso, defendeu, os países africanos devem apostar no desenvolvimento de infraestruturas que potenciem a penetração digital, encetar parcerias eficazes e aproveitar de forma plena o novo acordo de livre comércio, que entra em vigor em janeiro.
O vice-governador do banco central da Nigéria, por seu turno, defendeu que as polícias públicas devem ser direcionadas para a criação de emprego e argumentou que “os estímulos temporários devem ser mantidos para as pessoas conseguirem suportar as consequências trazidas pela pandemia”.
Kingsley Obiora disse ainda que reconhece a dificuldade de garantir margem orçamental para estimular a economia com programas de apoio, mas argumentou que o endividamento é possível se for canalizado de maneira adequada.
“Os investimentos certos em infraestruturas críticas e que fomentem o crescimento e o desenvolvimento podem fazer erodir a dívida e baixar os custos de financiamento, garantindo espaço orçamental”, disse o banqueiro central da maior economia africana, acrescentando: “O custo do serviço da dívida não é problema se o dinheiro servir para fomentar o crescimento porque o rácio da dívida pública face ao PIB será suportável se a economia crescer o suficiente”.
O acordo de livre comércio em África deverá entrar em vigor em 01 de janeiro, criando um mercado único de 1,3 mil milhões de pessoas com um Produto Interno Bruto de 3,4 biliões de dólares, o equivalente a cerca de 2,7 biliões de euros.