Vários municípios e instituições do Alentejo vão candidatar a Património da Humanidade a produção artesanal de vinho de talha, uma prática de vinificação típica da região, descendente dos romanos e com mais de dois mil anos.
A produção artesanal de vinho de talha pode vir a ser classificada como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), disse à agência Lusa Manuel Narra, presidente da Câmara de Vidigueira, no distrito de Beja, que teve a ideia e vai liderar o processo.
A eventual classificação visa “salvaguardar a arte de saber fazer vinho de talha, que é produzido de forma artesanal há mais de dois mil anos”, explicou o autarca, adiantando que a elaboração da candidatura vai começar em 2017 para que o processo seja apresentado à UNESCO “no final de 2018 ou no início de 2019″.
Trata-se de “salvaguardar uma tradição milenar”, porque, devido à “curiosidade que o vinho de talha está a despertar no mercado”, os produtores, “para poderem dar resposta ao mercado e rentabilizar o produto, vão ter a tendência de massificar e industrializar a produção e não irão cumprir com todas as regras a que a tradição obriga”, alertou.
O processo envolve seis municípios e cinco instituições do Alentejo, os quais vão assinar, na sexta-feira, durante a inauguração da Vitifrades, festa do vinho de talha, em Vila de Frades, no concelho de Vidigueira, uma carta de compromisso para darem início ao processo de candidatura.
Além de Vidigueira, a candidatura envolve os municípios de Aljustrel, Cuba e Moura, no distrito de Beja, Mora, no distrito de Évora, e Marvão, no distrito de Portalegre, onde há a tradição de produção artesanal de vinho de talha.
Ao longo dos tempos, a técnica de produzir vinho em grandes vasilhas de barro, conhecidas como talhas, foi sendo passada de geração em geração, “de forma quase imutável”.
De acordo com a CVRA, “não existe apenas uma forma de fazer o vinho em talhas”, já que a produção varia “ligeiramente” consoante a tradição local, mas, segundo a forma “mais clássica”, que “pouco mudou em mais de dois mil anos”, as uvas previamente esmagadas são colocadas dentro de talhas de barro e a fermentação ocorre espontaneamente.
Durante a fermentação, as películas de uvas, que sobem à superfície e formam uma capa de massas sólida, são mexidas com um rodo de madeira e obrigadas a mergulhar no mosto para “transmitir mais cor, aromas e sabores ao vinho”.
Terminada a fermentação, as massas assentam no fundo, explica a CVRA, referindo que na parede da talha, perto da base, existe um orifício, no qual se coloca uma torneira e por onde o vinho atravessa o filtro formado pelas massas de uvas e “sai puro e límpido para o exterior”, explica a CVRA.
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